quarta-feira, 18 de julho de 2007

Ninguém vive sem pão - Lucas 16, 19-30

Se prestarmos atenção nesta Parábola do Evangelho de Lucas em que havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino , e dava banquete todos os dias. E um pobre, chamado Lázaro que estava caído a porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico.
Fato triste e dramático. Um miserável procurando comida, ou melhor, catando comida entre os detritos como fosse um bicho. Manoel Bandeira escreveu uma poesia com esse título: O Bicho. E ele termina a poesia dizendo: "O bicho não era um cão. Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem". Voltando a Parábola enquanto o rico dava banquete todos os dias, o pobre Lázaro catava os pedaços de pão que o rico jogava ao chão após ter enxugado a boca e as mãos.
Aprendemos com essa Parábola que o abismo da terra é entre o chão e a mesa, o latão de lixo e a mesa, a calçada do supermercado e a porta de aço que separa os Lázaros de tantos alimentos, o salário mínimo e a cesta básica. Deus não tem interesse de ver seus filhos sofrendo. Não é Ele quem cria abismos para o homem. Vivemos o tempo em que o homem vai prendendo para si o que pertence aos outros.
A miséria, com a morte de ambos na Parábola ficou invertida. Na terra o Lázaro corria atrás de um pedaço de pão sujo, e no céu o rico corria atrás de uma gota de água? Não dá para se ter preferência entre morrer de fome ou morrer de sede. Mas contudo, o Lázaro ainda levou vantagem, porque morrer de fome no tempo, ainda é menos piór, do que morrer de sede na eternidade. Será que, quem tinha um banquete para todos os dias, esperava um dia ser mendigo de uma gora de água? Ninguém vive sem um pedaço de pão, mas por causa de um pedaço de pão podemos deixar de viver.
O rico está preocupado com os ricos e Deus está preocupado com os Lázaros. E a partir da preocupação deste rico, podemos entender que a situação do mundo piorou. A proporção era: seis ricos e seis Lázaros. Hoje no Brasil temos 5% de ricos e 80% de Lázaros. No mundo, hoje segundo estatísticas temos a cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem na pobreza; 700 milhões de pessoas estã desempregadas e 780 milhões estão desnutridas. Falta comida, roupa, remédio; mas não falta armas e bombas. Gasta-se, atualmente, por ano, no mundo, bilhões de dólares em armas. Existem, ainda, milhares de bombas atômicas, capazes de acabar com o nosso planeta. Temos outra estatística dolorosa; no Brasil, existe um proprietário com uma área de terra do tamanho dos estados do Rio de Janeiro e Sergipe, juntos.
Jesus veio para resgatar a vida. "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância. Ter vida em abundância é comer à vontade e não guardar à vontade. Se repartimos, sobra: Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram, é o que está escrito no Evangelho de Mateus 14, 20. Mas o que está acontecendo não bem o que está escrito no Evangelho de Mateus, e sim no Evangelho de Lucas 12, 18 que está escrito: Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Jesus caído no caminho da vida

Caminhamos nesta vida, mas queremos atravessar as fronteiras do humano. Herdamos este mundo, mas queremos uma herança maior: a vida eterna. A pergunta do especialista em leis que aparece no Evangelho de Lc. 10, 25-37, é também nossa pergunta: Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna? Nem sempre o que está escrito na lei " Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente e ao seu próximo como a si mesmo". Está escrito também em nosso coração. Jesus quer uma aproximação maior entre o nosso coração e nossa cabeça. Infelizmente existe um bloqueio impedindo que as coisas mais bonitas de nossa cabeça desçam até o nosso coração. Quando deveríamos estar socorrendo, ainda estamos perguntando: Quem é o meu próximo? Quando fazemos esta pergunta queremos encher mais ainda a nossa cabeça. Esta pedindo socorro. Está machucado. Foi atingido pelos bandidos da politica, das grandes empresas, dos grandes latifúndios. Está quase morto. Perdeu a esperança e o gesto de viver. Apanhou muito porque não tinha mais dinheiro para oferecer. Não tem nome porque são milhões. Arrancaram-lhe tudo: A terra, o emprego, a moradia, a educação, a saúde, os alimentos, a força do trabalho, a dignidade, o nome, a esperança, a fé e, finalmente, o gosto de viver. O espancaram certamente dizendo: Vagabundo vai trabalhar para aumentar a nossa riqueza. a grande pergunta é: Trabalhar onde? Na terra?.
Caminho de Jerusalém a Jericó, caminho da vida. Quanta vezes se repete, a cada dia, esta história? Nosso mundo é o mundo da necessidade. Existe uma multidão espancada na sua dignidade humana sem recursos, doente, em crise, uma multidão caída na estrada da vida. Tem muita gente passando a vida sempre do outro lado. Lado do comodísmo, do orgulho, do egoísmo. tem gente pensando que nunca vai cair, que nunca vai precisar de curativos para chegar a um hospital. tem muita gente agarrada no seu eu, pensando ser super homem ou super mulher. Sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social. Nossos bens, ou melhor, os bens que julgamos ser nossos já foram hipotecados pelo Criador. No ato da criação Deus nos ofereceu este mundo como nossa primeira herança.
É justamente por causa de uma herança muito maior do que esta que estamos analisando as atitudes do sacerdote e do levita que foram procurar o próximo dentro do Templo. É gostoso estar com o próximo na Igreja: roupa limpa, banho tomado, perfume, etc. Próximo caído no caminho só dá trabalho, toma o nosso tempo, usa o nosso meio de transporte, faz gastar o nosso dinheiro. Mas, graças a Deus existe o mundo do voluntário, representado pelo bom Samaritano, justamente para combater este mundo da indiferença, representado pelo sacerdote e pelo levita.
No meio de tanta desigualdade social, o que ainda salva muita gente da morte prematura e de uma miséria extrema é a solidariedade de quem defende os direitos humanos e vive os valores Evangélicos. Os Bom Samaritanos dos nossos tempos são todos aqueles que, no caminho da vida, vão socorrendo a Jesus na pessoa dos irmãos necessitados em suas seis necessidades fundamentais: Comida, bebida, roupa, remédios, liberdade e hospedagem. Depois de fazermos tudo isso ouviremos a voz de Jesus: "Vinde,benditos de meu Pai". Recebam como herança o Reino que meu Pai lhe preparou desde a criação do mundo. (Mt. 25, 34). Quando estamos caminhando, às vezes ficamos aflitos e impacientes. Achamos o caminho estreito e longo. queremos chegar depressa. Temos curiosidade e desejos quando começamos a imaginar o que nos espera no final do caminho. Nossa insegurança é grande, será que vamos mesmo receber a herança? Aprendemos com o Evangelho de Mateus capítulo 25, 32-46 que Jesus, o Rei não é ciumento, e que com a sua encarnação, de fato, Ele se tornou um de nós, e Ele disse: que todas as vezes que vocês fizerem isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram!.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Escatologia: a Teologia da Esperança

A palavra escatologia vem do grego eskhaton que significa "o futuro absoluto", o fim último da existência humana. Em outras palavras, escatologia é a reflexão teologica sobre o que nos espera na outra beira, no final desta vida terrena. Para onde vamos? Qual é o fim e o sentidoúltimo da existência?.
Teologia da Esperança. Este é um outro nome, mais popular, que poderá ser dado para a escatologia. Isto porque, sobre a vida após a morte, tudo o que sabemos, o sabemos pela esperança. Ora, a esperança brota da fé e a fé nasce de uma experiência pessoal de Deus. Logo, quem não se encontrou pessoalmente com Deus, quem não experienciou o mistério divino, não poderá alimentar a esperança e não terá nada a dizer sobre a vida após a morte, a não ser negar ou temer.
As respostas para esperança, portanto, estão na esfera da fé. Não podemos fazer ciência sobre isto. A ciência nos moldes da ciência moderna, se resume somente naquilo que pode ser comprovado pela experiência. A ciência moderna possui seus próprios métodos de investigação sobre a verdade e, cientificamente, somente é aceito como verdade aquilo que pode ser provado e medido concretamente, que passa pelos sentidos humanos, que aparece, que é empírico e aquilo não pode ser medido, quantificado, não é considerado ciência. Ora, a esperança, a crença na vida eterna, não é algo que passa ser provado em laboratório. Isto pertence ao mais profundo da consciência de cada um. É graça, mistério, fé. Logo, não podemos fazer ciência sobre a esperança.
A esperança também é diferente de expectativa. As expectativas poderão ser frustadas. Elas pertencem ao universo da história, dos nossos sonhos, das nossas utopias, dos nossos ideais. Temos expectativas politicas, econômicas, afetivas, que poderão realizar-se ou não, dependendo de variantes históricas. A esperança vai além. Ela é fruto da nossa fé. A esperança é eterna, consoladora, e nos chama para o futuro. A concretização da nossa esperança se dará na eternidade e é algo sem limites, não passa pelo crivo das frustrações humanas, das utopias. As utopias desmoronam, mas a esperança não morre porque está para além das utopias. A esperança, como dizemos popularmente, é realmente a última que que morre. Somente irá morrer quando não precisamos mais dela. Quando tudo estiver consumado, quando estivermos face a face com o nosso Deus. aí não é mais esperança, e sim realidade.
A humanidade sempre buscou na esfera da fé, das crenças diversas, aquilo que a razão não pode explicar. A razão humana é limitada porque é humana. Quando a razão não encontra mais respostas entramos no mistério, no universo da fé, e buscamos respostas religiosas, sagradas, ou como dizem os filósofos, na esfera da metafísica. Então surgem diversas respostas com respeito no fim último do homem e do mundo. Estas respostas, chamamos de respostas escatológicas.
A resposta judaica cristã é uma delas. A resposta oriental será outra, a resposta das religiões de matriz africana será diferente e assim teremos várias outras que podem mudar no tempo e no espaço, pois são respostas teológicas e a teologia é algo dinâmico, que varia no tempo, no espaçoe nas culturas diversas.
Os de tradição religiosa oriental, por exemplo, crêem naquilo que chamam de transmigração das almas. Para eles, o final de tudo será quando voltamos a ser o Deus de onde viemos. Todas as criaturas são uma centelha, uma fagulha da grande divindade que o hinduísmo chama de Brahma. o caminho de todas as criaturas é o de retornar para Brahma. Para isto deverão buscar, nas vidas, a perfeição, o que dependerá do progresso de cada criatura em sucessivas reencarnações. Quando cada criatura atingir a perfeição, ela perderá a sua identidade e retornará a Deus novamente, tornando-se Deus. Este caminho de retorno, para eles, é penoso, sofrido e exige, sacrifício, renúncia da materialidade, contemplação. Temos aí, portanto, uma resposta.
O espiritismo, cuja filosofia é bastante recente, tem raízes no pensamento oriental e fala em reencarnação. Diz a doutrina espírita que as almas reencarnam para atingirem a purificação, e quando purificadas passam a viver numa outra dimensão. No entanto, não se tornam Deus, como diz a crença oriental. Para o espiritismo o caminho da purificação é o caminho da caridade. Sem caridade não há salvação. Esta é outra resposta para o mistério da esperança.
Nós cristãos acreditamos na ressurreição. A santidade, cremos, nós a alcançamos durante a vida, e a vida é uma única. Temos somente uma vida terrena. Cremos também, diferentemente das duas outras respostas que nos referimos.
A espiritualidade de Jesus era uma espiritualidade de esperança, de futuro, para frente. Para Jesus, se fundamenta no amor e o amor é criativo, projeta para frente, para a esperança, pois quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno do reino do céu. Não pode haver retrocesso nem desespero quando há amor. O amor nos projeta para a eternidade e nos dá segurança.
Vimos, portanto, algumas respostas para a esperança humana. Sobre isto não adianta tentar fazer ci~encia, não adianta buscar comprovação científicas, pois estã no universo da fé, e neste universo todas as respostas deverão ser respeitadas. Grande é o erro quando tentamos comprovar as nossas respostas escatológicas, provar a ressurreição ou provar a reencarnação. Se um dia conseguimos provar, deixará de ser fé e passará, então, a ser ciência. Não precisamos mais acreditar e a esperança, então, desaparecerá, ficando somente a expectativa que fazem parte do relativo universo humano.
Acontece que o ser humano atropologicamente, é um ser de esperança. Ser homem é ser aberto à transcendência e este é o ponto chave para todas as respostas escatológicas. Não há como fugir da esperança que é parte essencial na existência humana. Ou é Deus, ou são fetiches que o mundo nos apresenta. O ser humano precisa de transcendência e isto vai além, muito além daquilo que a nossa limitada ciência possa dizer.
Matéria extraída do livro "Escatologia Cristã" Entre ameaças e a esperança - autor Mario Antonio Betiato - Editora Vozes

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Concílio Vaticano II (1962 a 1965)

"As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração. Portanto, a comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com o gênero humano e com sua história".
Assim começa a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS), um dos 16 documentos formulados no Concílio Vaticano II. Depois de quatro séculos de uma Igreja constituída, basicamente, a partir de Trento, finalmente toma-se a decisão de iniciar um diálogo com o mundo moderno. fazendo jus as palavras do Papa João XXIII no inicio do seu pontificado que disse: "Precisamos abrir as portas e as janelas da Igreja, para que os ventos da modernidade possam asoprar a poeira que está assentada no Trono de São Pedro". Acabou a fase de demonização da modernidade. Agora, chegou a hora de colocar em dia (aggiornamento) a Igreja, como dizia João XXIII, e se adaptar à nova realidade, porém com muita simplicidade, como o mesmo João XXIII indicou no discurso de abertura do Concílio dia 11 de Outubro de 1962 quando disse: "Nos nossos dias, porém, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade: julga satisfazer melhor as necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina que condenando erros. A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados".
Foi, e continua sendo, um momento de fundamental importância para a Igreja Católica, tanto no século XX, bem como, agora, no século XXI. Contudo, apesar da abertura, podemos afirmar que o Concílio ainda está em fase de implantação. Parece que, passados alguns anos, pode-se constatar certo sentimento de saudade daquela Igreja anterior ao Concílio Vaticano II. No entanto, não existe mais a volta. Ou a Igreja implanta de vez as aspirações que brotaram dele, ou permanecerá como uma palavra que não pode ser compreendida no mundo de hoje. É verdade que existem na Igreja dimensões imutáveis, mas isso não justifica a necessidade de adequação aos novos tempos. E antes de buscar um Vaticano III é preciso retomar com vigor os 16 documentos do Concílio do diálogo.
As quatros Constituição, os nove decretos e as três declarações, formam o Compêndio do Vaticano II. Foi, e é, muito importante, porque foi celebrado para despertar, para renovar, para modernizar, para intensificar, para diálogar a vida da Igreja. Quer dizer, para tornar maior não só a consciência da sua natureza e da sua missão, mas também para aumentar a sua energia, a sua capacidade de corresponder à própria vocação, à sua ânsia de santificação interna e de difusão externa, a sua aptidão de entrar em contato com os irmãos separados e de oferecer ao mundo contemporâneo a mensagem da salvação em Cristo Senhor.
Mesmo levando em consideração o contexto sob o qual estes documentos foram escritos a sua intuição fundante continua válida. Eles devem ser um ponto de partida progressivo, pois nos permitem, em consonância com a Tradição, buscar caminhos pelos quais homens e mulheres possam reconhecer o rosto amoroso e salvador do Cristo no meio da confusão e do barulho moderno.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Seguindo o Caminho de Jesus Cristo hoje

Buscamos em nossa reflexão demonstrar qual foi o Caminho de Jesus Cristo. Procuramos, ainda que resumidamente, fazer com Ele a passagem pela Palestina, saindo da Galiléia até Jerusalém. Esbarramos naquele homem nascido de Maria, que cresceu em sabedoria, em estatura e em graça (Lc. 2,52). E encontramos um Deus tremendamente apaixonado pelo ser humano. um Deus que assume a realidade humana para confirmar o plano da criação. Para confirmar que a humanidade não é um mal necessário para chegar ao céu, mas condição para fazer o caminho. Caminho que depois de Jesus de Nazaré ganhou um roteiro bem visível, chamado Reino de Deus.
Com a presença histórica de Deus em Jesus Cristo aqueles que fazem a experiência de fé neste Deus passam a ter um modelo concreto e objetivo de trajetória de vida. Assim, os que se dizem ligados ao Cristianismos devem ter disposição para fazer de suas vidas a mesma coisa que Jesus fez com a dele. Como foi visto, Jesus Cristo é o Messias Servidor. Ele é como o Servo de Javé de Isaias (Is. 52,13-53,12) o homem da solidariedade. Ele nos salva não tirando o nosso lugar, mas nos capacitando para realizar o caminho.

O que procuramos fazer foi justamente insistir em afirmar uma fé cristã comprometida tremendamente com a vida humana por causa de Jesus Cristo. O processo de evangelização e a catequese nem sempre apresentam o Deus revelado no Senhor Jesus de modo integral. ficamos com uma fé minguada, raquítica, individualista ao extremo: "Salva a tua alma". Ora, foi isto que Jesus nos mostrou? Ele veio se salvar ou nos salvar? Se Ele nos salvou enquanto humano, dando um testemunho de solidariedade com todos os que encontrva no caminho da salvação, existe aí uma revelação revolucionária: o caminho da salvação passa, pata todo ser humano, pela valorização da vida. Da própria existência e da existência alheia.

Ora, o que significa viver a vida como Jesus no mundo de hoje? Qual seria o papel da Igreja de Cristo diante de um mundo machucado pelo pecado humano do egoísmo, da vaidade, da injustiça, enfim de tudo aquilo que não deixa o ser humano bom criado poe Deus, viver com dignidade? Apenas reunir os fiéis para louvar e pedir milagres, ou promover também um aprofundamento do seguimento integral de Jesus Cristo? Cremos que estas reflexôes cristológicas apresentadas aqui, ainda que sinteticamente, possibilitam visualizar e perceber que, se queremos viver o cristianismo com profundidade e responder a tais perguntas, só nos resta uma opção: fazer O caminho de Jesus Cristo assumindo o Reino de Deus desde já. Só assim poderemos experimentar aquilo que o Apocalipse relata tão bem: Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo, e Deus será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram (Ap 21, 3-4).

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Morte: encontro definitivo com Deus

No princípio do cristianismo havia uma forte confiança na realidade da salvação no contexto integral da vida humana. Porém, a perseguição aos cristãos fez surgir uma linguagem apocalíptica sobre a morte e a eternidade. Começaram a surgir imagens fortes para expressar a convicção da salvação em Jesus Cristo. Contudo, quando as perseguições terminaram as imagens permaneceram e muitos cristãos continuaram a se sentir como eternos perseguidos, não percebendo mais com nitidez que o amor de Deus é sem limites. Deus, o criador, aceita os limites de suas criaturas, tentando, continuamente, que os limites sejam superados pelo amor. Portanto, quando morremos não somos levados a um tribunal divino.

Infelizmente, ao longo do tempo, o que predominou na relação com Deus foi uma imagem de culpa extremada e um medo assustador. É certo que a crença no amor de Deus que perdura para sempre me leva ao confronto com a minha vida, mas não para transformá-la numa vida de medo e culpa e sim numa vida de libertação. Somos seres limitados é verdade, mas a nossa limitação pode ser vencida pelo amor.

No princípio do cristianismo, a crença na vida eterna era uma razão para se viver melhor desde já, e não apenas um sentimento de espera. A convicção era tão grande que muitos se dirigiam "Sorrindo para a boca do leão", enfrentavam o martírio com muita serenidade. Não há mais lugar para o medo, e em vez de cada um cuidar, de maneira até egoísta, de salvar a sua própria alma, sobrará energia para se preocupar com o mundo e com que é a própria tarefa do cristão. A primeira tarefa do cristão não é cuidar de sua própria salvação. A primeira tarefa do cristão é trabalhar para que o Reino de Deus se realize. Libertado do medo e das preocupações augustiadas com a salvação de sua alma, a fé pode tornar-se prática de vida transformadora.

Hoje ainda vivemos uma religiosidade cristã que se transmite de maneira muito opressiva. Muitos crêem por medo da morte e do inferno, trazendo consequências negativas para a prática do cristianismo no mundo, pois, se temos uma imagem de Deus como carrasco, seremos carrascos para os nossos semelhantes. Uma imagem opressiva de Deus leva os crentes a oprimir seus semelhantes.

O inferno não pode ser pregado como uma arma para assustar pessoas ou ateus, como foi durante muito tempo. É preciso superar a força opressiva do inferno neste mundo para poder lutar contra os infernos que começam aqui. É preciso construir uma fé com esperança. Uma esperança que é um movimento dinâmico, de transformação, que não se conforma em trabalhar pensando apenas num outro mundo, mas que atua desde já, na esperança de realizar o encontro definitivo com Deus na eternidade.

Superado o medo e o complexo de culpa presente, muitas vezes, em nossa experiência de morte, podemos vislumbrar um pouco daquilo que a fé cristã coloca sobre este momento. É na morte que, de fato, poderemos encontrar Deus face a face(1Cor 13,12). E, sendo assim, a morte não é um momento estático. Quando chegamos a essa situação final de nossa vida terrestre podemos afirmar que chegamos ao estado de morte. Um estado transitório que nos levará a uma realidade final. Ao morrer, não há mais possibilidade de ficarmos indiferentes frente ao convite do Deus da vida. Portanto, se não passamos pela morte não poderemos nos encontrar, definitivamente, com Deus.

Na morte é o próprio ser humano quem se julga e não Deus. o ser humano, quando morre, não comparece frente a um juiz, e sim frente ao amor infinito de Deus. É na morte que, finalmente,o ser humano pode experimentar Deus como fim último de sua existência. Apesar de nossa limitação, de nosso pecado, o encontro com Deus é encontro de amor. É um encontro no qual a pessoa humana reconhece o que, na realidade, Deus pretendia com a totalidade de sua vida. Então, pode-se experimentar quão pouco se realiza daquele projeto humano que Deus tem para todos. É aqui que a existência humana encontrará, ou não, verdadeiramente,a razão última de sua existência.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Páscoa, um modo de vida

Páscoa é a festa mais importante dos cristãos. O ponto alto do ano liturgico. É preparada durante os quarenta dias da Quaresma e prolongada nos cinquenta dias do tempo pascal.

É o dia em que celebramos a vitória da Vida sobre a morte: O Jesus crucificado, Deus o ressuscitou dos mortos. Foi o que Pedro anunciou aos Judeus na praça de Jerusalém. Jesus foi perseguido, odiado, acusado, preso e condenado à morte na cruz por aqueles que tinham medo de sua mensagem. "O Reino será dado aos pobres". Eles condenaram a morte por covardia, por inveja, por entender que perderiam seus privilégios e seu poder, por entender que ele subvertia a ordem religiosa afirmando ser Filho de Deus, o que era considerado uma blasfêmia.

Jesus poderia ter fugido. Poderia ter negado tudo o que disse, para se salvar. Não o fez. Seria trair seu Pai. Seria trair os pobres e humildes. Seria não cumprir sua missão. Encarou a morte de frente. com medo. é lógico pois Jesus era 100% humano e 100% Divino e Ele percebe todo seu sofrimento, por isso Ele pede ao Pai: "Pai se for possivel afasta de mim este Calíce". E suando água e sangue. mas não fugiu.

Morreu pregado na cruz como um criminoso, um fora da lei, um amaldiçoado. Os inimigos dele ficaram feliz da vida e diziam: até que enfim a paz voltaria à região. Não precisariam mais ouvir os insultos deste filho de carpinteiro metido a profeta e a Messias. Os discípulos de Jesus ficaram arrasados. Será que haviam se enganados?. A esperança escorregou por entre os dedos: tudo acabou. Ele morreu! Que será de nós sem o seu grande lider.

Mas na reunião dos discípulos que choravam a sua morte e se escondiam por medo do Judeus, Ele apareceu. Vivo. Ressuscitado. Ele e sua mensagem sobre o Reino. O Pai não podia deixar seu Filho na morte, não podia deixar dúvida alguma sobre a sua missão. Por isso, o Pai reabriu o processo que Pilatos, Herodes e as autoridades haviam feito contra Jesus e deu sentença contrária. "Os culpados e criminosos são vocês! Ele é inocente. Ele anunciou a verdade: O Reino será dos pobres e humildes. Para os discípulos, a esperança e a alegria voltaram. Um enorme sentimento de gratidão invadia todos eles e encheram de coragem e ânimo para levar avante a missão de Jesus. pois haviam recebido de Jesus a promessa que em todos os cantos da terra que estiverem, o Espirito Santo do Pai e do Filho estará com vocês.

Na Páscoa, nós festejamos a vitória de Jesus sobre a morte. participamos e nos identificamos com Ele na sua morte e na sua ressureição. Unidos a Jesus que está sentado a direita de Deus, sabemos que a vida é mais forte do que a morte, a verdade mais forte que a mentira, a justiça de Deus é mais forte que a injustiça dos grandes e poderosos.

Páscoa não é só uma festa. É um modo de viver. um dia passamos pela água do batismo, significando nossa participação na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Por isso, animados e guiados pelo Espirito Santo que recebemos através do Cristo, somos chamados a viver uma vida pascal. Procuramos fazer a passagem da morte para a vida, em nossa existência individual e social. Procuramos superar o egoísmo, os vícios, o ódio, a indeferença pelos irmãos, crescendo no amor, na dedicação, na doação de nossa vida. Procuramos vencer as injustiças, a opressão, o sistema de vida baseada na ganância, no luxo, na violência, no aumento do capital a qualquer custo, não se importando com a caridade. Procuramos construir com muita luta e esperança uma sociedade justa e fraterna, baseada no amor, na partilha, na solidariedade, no respeito a cada pessoa humana

Valdelir Rey Monte é menbro da Escola Diocesana de Teologia, e atua na Pastoral Liturgica na Paróquia São Benedito Americana.

terça-feira, 20 de março de 2007

Ressurreição: confirmação do Caminho de Jesus Cristo

Quando o fracasso total parecia se apresentar no final do caminho, os que seguiam o Mestre da Solidariedade, mulheres e homens, jovens e adultos experimentaram com mais força ainda o Deus que acolhe o caminho da paz, da reconciliação, o caminho do amor como a única opção de Deus para a humanidade. Ele está vivo. A morte não pode impedir o seu projeto. Realiza-se a passagem definitiva, a Páscoa que ultrapassa o ódio, o rancor, a guerra, o egoismo, o pecado que não nos deixa viver a nossa humanidade integralmente como Jesus viveu a sua. O final do caminho terreno de Jesus é um novo começo.
Jesus Cristo aparece na vida de seus amigos. A esperança se refaz, pois Ele está no meio de nós. Ele está onde existe o esforço de resgatar a humanidade para o caminho de Deus. Os relatos evangélicos da ressurreição de Jesus não querem espiritualizar o projeto do Reino de Deus. Os relatos nos mostram que Jesus integralmente considerado está vivo. Ele não é um fantasma e nem apenas um ser humano adotado por Deus. Ele é a própria presença de Deus. Com os olhos da fé os seguidores viram Jesus Ressuscitado confirmando todo o caminho traçado ao longo de sua vida. Os discípulos e discípulas foram testemunhas chave daquilo que podemos crer sem ver como eles viram: Jesus Cristo não aparece mais porque com a sua ressurreição ele revelou que pode ser visto em toda irmã e todo irmão.
A ressureição nos aponta que o caminho da vida plena começa já. O bem que eu faço hoje não se esgota nunca, como mostrou Jesus. Somente o bem ressuscitará. A salvação realizada por Deus no caminho de Jesus é o convite para que desde já nos tornemos um novo homem e uma nova mulher. Liberta-nos do pecado enquanto fonte de todo o mal que podemos realizar. Liberta-nos da confiança exagerada na lei que não nos deixa experimentar a gratuidade do amor que pode ser vivenciado na comunidade daqueles(as) que vivem na graça do Ressuscitado. Quando não confiamos nos amor precisamos mais de lei. Quanto mais lei tem uma comunidade maior é o sinal de que o amor é muito pequenino. Mas, se mergulharmos no mistério do amor revelado na totalidade do caminho de Jesus Cristo podemos exclamar: " Tudo posso naquele que me fortalece". (Fl 4, 13); ou como dizia Santo Agostinho: " Ama e fazes o que queres".
Com a ressurreição nasce a missão. Não devemos ficar olhando para o céu (At 1, 9-11). Aqueles que experimentaram a ressurreição devem ser testemunhas da nova vida transformada pelo AMOR. Amor que, como vimos ao longo do caminho de Jesus, é concreto, objetivo, tem direção. a Ressureição é a confirmação do Reino de Deus testemunhado por Jesus; por isso, hoje ainda podemos realizar a missão como aquele que é o nosso Messias, o ungido, o Cristo de Deus feito homem, e assim mostrar qual é o caminho da salvação.
Matéria extraída do livro Teologia para todos, Autor Celso Pinto Carias . Ed. Vozes

sábado, 10 de março de 2007

Kairós: O tempo de Deus

A Bíblia ensina que há um tempo apropriado para cada coisa e para cada circunstância da vida. Vejamos no livro de Eclesiastes 3, 1-8:
Debaixo do céu há um momento para tudo, e um tempo para certo para cada coisa.

tempo para nascer e para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para dançar. Tempo para jogar pedras e tempo para recolher as pedras jogadas. Tempo para abraçar e tempo para separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para costurar. Tempo para falar e tempo para calar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz.
A partir deste texto podemos inferir no sentido de que a vida do ser humano é limitada a momentos, aos quais ele desconhece, cabendo-lhe, inicialmente, aceitá-los como contingência da sua própria condição de imperfeito e limitado. Diante dessa limitação, é preciso aceitar e buscar o discernimento para entender os mistériosos eventos da vida.
Nas Sagradas Escrituras podemos encontrar inúmeras e seguidas referências ao tempo. Nestas construções há dois tipos de tempo: O tempo cronológico, medido, especificado através de um cronômetro ou datas de um calendário. E o tempo qualificado, oportuno, sem menção de cronologia, aquele tempo mistério, e adequado, que só o Senhor sabe e conhece, e ao qual nos rendemos em fiél e esperançosa expectação.
Kairós é o tempo de Deus; um tempo que só Ele sabe e conhece.
A Bíblia se abre e se fecha com noções de tempo, oportuno, qualificado e misterioso: Vejamos em (Gn 1,1) No começo Deus criou o céu e a terra... Um legítimo Kairós.
(Ap. 22,20) Sim eu venho em breve.... Outro legítimo Kairós. Tempo que só Deus sabe e conhece
A sabedoria popular cunhou diversas expressões cuja profundidade, com o passar dos anos, tomaram-se parte da vida humana, tal a forma inconteste com que manifestam verdades e configuram afirmações. Uma delas é: " O futuro a Deus pertence!" É tão flagrante a realidade dessa afirmação que ninguém ousa desmenti-la, e os próprios ateus usam-na como referência ao desconhecido dos tempos vindouros. De fato, o futuro é incerto, mas Deus conhece seus meandros; Deus sabe a hora e o dia em que tais e tais coisas vão acontecer. Esse tempo, incerto para nós, mas claríssimo para Deus, é o Kairós.
A vida humana está toda ela orientada em função do kairós do Senhor. Vivemos um tempo de espera, libertação e transformação. o kairós é o tempo, é o dia do Senhor, de onde, a cada momento, tiramos sinais e lições de vida.
para as coisas de Deus é preciso fé, paciência e sensibilidade.
quem tem ouvidos para ouvir, que ouça
Matéria extraída do livro KAIRÓS Autor Antônio Mesquita Galvão Editora Vozes

segunda-feira, 5 de março de 2007

As Escrituras

A grande verdade é que as Escrituras só existem em função da vida do ser humano. Se o homem não existisse ou se existindo, fosse incapaz de refletir, para que serviriam as escrituras?

Elas existem para narrar a maturação da vida do homem, desde suas sociedades primitivas, para estabelecer um senso crítico, e para falar das maravilhas de Deus, um Deus que planeja, desde o começo, a felicidade, a libertação e a salvação de seu povo. Neste período, de maturação e crescimento, Deus faz-se presente, para dizer ao homem que a vida não é um "Vale de lagrimas" perene, mas que as desgraças anunciadas ao Adão infrator serão amenizadas num tempo futuro, quando o Criador descerá para libertar seu povo (cf Ex 3, 7-10) e armar sua tenda no meio dele. Entretanto, é bom que se diga, a Escritura não é um livro histórico (ou de história) mas uma narrativa de fundo místico, que narra o amor de Deus pelo ser humano, criatura sua.

domingo, 4 de março de 2007

Conhecer Deus

Toda essa necessidade de conhecer a si próprio e ao próximo leva o homem a conhecer Deus. Embora a adesão ao projeto de Deus se de mediante uma atitude de fé. O fato de querer ama-lo requer de nós um estagio de conhecimento. É preciso conhecer a Deus para ama-lo. como podemos amar alguem a quem não conhecemos? só familiarizando-nos com a Palavra de Deus é que podemos atender às interpeladoras exigências do Evangelho. Esse conhecimento de si, do outro, do cosmo, de Deus e do compromisso, conduz o homem á verdade. Jesus fez-se homem para que os homens tivesse amplo conhecimento da verdade.

texto extraido do livro "Kairós iniciação a teologia dogmática Pastoral" de Antonio Mesquita Galvão. Editora Vozes

sábado, 3 de março de 2007

Salmo 91

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.
Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio.
Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa.
Ele te cobre com as suas penas, e debaixo das suas asas encontras refúgio; a sua verdade é escudo e broquel.
Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia,
nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia.
Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido.
Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
Porquanto fizeste do Senhor o teu refúgio, e do Altíssimo a tua habitação,
nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te susterão nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.
Pisarás o leão e a áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
Pois que tanto me amou, eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque ele conhece o meu nome.
Quando ele me invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei, e o honrarei.
Com longura de dias fartá-lo-ei, e lhe mostrarei a minha salvação.