sexta-feira, 13 de julho de 2007

Jesus caído no caminho da vida

Caminhamos nesta vida, mas queremos atravessar as fronteiras do humano. Herdamos este mundo, mas queremos uma herança maior: a vida eterna. A pergunta do especialista em leis que aparece no Evangelho de Lc. 10, 25-37, é também nossa pergunta: Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna? Nem sempre o que está escrito na lei " Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente e ao seu próximo como a si mesmo". Está escrito também em nosso coração. Jesus quer uma aproximação maior entre o nosso coração e nossa cabeça. Infelizmente existe um bloqueio impedindo que as coisas mais bonitas de nossa cabeça desçam até o nosso coração. Quando deveríamos estar socorrendo, ainda estamos perguntando: Quem é o meu próximo? Quando fazemos esta pergunta queremos encher mais ainda a nossa cabeça. Esta pedindo socorro. Está machucado. Foi atingido pelos bandidos da politica, das grandes empresas, dos grandes latifúndios. Está quase morto. Perdeu a esperança e o gesto de viver. Apanhou muito porque não tinha mais dinheiro para oferecer. Não tem nome porque são milhões. Arrancaram-lhe tudo: A terra, o emprego, a moradia, a educação, a saúde, os alimentos, a força do trabalho, a dignidade, o nome, a esperança, a fé e, finalmente, o gosto de viver. O espancaram certamente dizendo: Vagabundo vai trabalhar para aumentar a nossa riqueza. a grande pergunta é: Trabalhar onde? Na terra?.
Caminho de Jerusalém a Jericó, caminho da vida. Quanta vezes se repete, a cada dia, esta história? Nosso mundo é o mundo da necessidade. Existe uma multidão espancada na sua dignidade humana sem recursos, doente, em crise, uma multidão caída na estrada da vida. Tem muita gente passando a vida sempre do outro lado. Lado do comodísmo, do orgulho, do egoísmo. tem gente pensando que nunca vai cair, que nunca vai precisar de curativos para chegar a um hospital. tem muita gente agarrada no seu eu, pensando ser super homem ou super mulher. Sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social. Nossos bens, ou melhor, os bens que julgamos ser nossos já foram hipotecados pelo Criador. No ato da criação Deus nos ofereceu este mundo como nossa primeira herança.
É justamente por causa de uma herança muito maior do que esta que estamos analisando as atitudes do sacerdote e do levita que foram procurar o próximo dentro do Templo. É gostoso estar com o próximo na Igreja: roupa limpa, banho tomado, perfume, etc. Próximo caído no caminho só dá trabalho, toma o nosso tempo, usa o nosso meio de transporte, faz gastar o nosso dinheiro. Mas, graças a Deus existe o mundo do voluntário, representado pelo bom Samaritano, justamente para combater este mundo da indiferença, representado pelo sacerdote e pelo levita.
No meio de tanta desigualdade social, o que ainda salva muita gente da morte prematura e de uma miséria extrema é a solidariedade de quem defende os direitos humanos e vive os valores Evangélicos. Os Bom Samaritanos dos nossos tempos são todos aqueles que, no caminho da vida, vão socorrendo a Jesus na pessoa dos irmãos necessitados em suas seis necessidades fundamentais: Comida, bebida, roupa, remédios, liberdade e hospedagem. Depois de fazermos tudo isso ouviremos a voz de Jesus: "Vinde,benditos de meu Pai". Recebam como herança o Reino que meu Pai lhe preparou desde a criação do mundo. (Mt. 25, 34). Quando estamos caminhando, às vezes ficamos aflitos e impacientes. Achamos o caminho estreito e longo. queremos chegar depressa. Temos curiosidade e desejos quando começamos a imaginar o que nos espera no final do caminho. Nossa insegurança é grande, será que vamos mesmo receber a herança? Aprendemos com o Evangelho de Mateus capítulo 25, 32-46 que Jesus, o Rei não é ciumento, e que com a sua encarnação, de fato, Ele se tornou um de nós, e Ele disse: que todas as vezes que vocês fizerem isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram!.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito rico, belo e acima de tudo verdadeiro.
Não podemos viver mais a vida na condição de separarmos Deus do mundo,
só podemos viver em união e harmonia,
realmente praticando a essência deste texto,
não podemos mais ignorar as carências do mundo da vida;
não podemos mais viver desprezando a necessidade de suprir nossa alma
se não vivermos o Evangelho, e viver o Evangelho,
nada mais é do que sermos doação para o próximo,
para que o próximo também nos seja doação,
se não no pão, na experiência vivida.
Parabéns Valdelir, belíssimo texto.
Que Deus nos conceda a graça de sermos bons samaritanos.
Sonia Mara