quinta-feira, 12 de julho de 2007

Escatologia: a Teologia da Esperança

A palavra escatologia vem do grego eskhaton que significa "o futuro absoluto", o fim último da existência humana. Em outras palavras, escatologia é a reflexão teologica sobre o que nos espera na outra beira, no final desta vida terrena. Para onde vamos? Qual é o fim e o sentidoúltimo da existência?.
Teologia da Esperança. Este é um outro nome, mais popular, que poderá ser dado para a escatologia. Isto porque, sobre a vida após a morte, tudo o que sabemos, o sabemos pela esperança. Ora, a esperança brota da fé e a fé nasce de uma experiência pessoal de Deus. Logo, quem não se encontrou pessoalmente com Deus, quem não experienciou o mistério divino, não poderá alimentar a esperança e não terá nada a dizer sobre a vida após a morte, a não ser negar ou temer.
As respostas para esperança, portanto, estão na esfera da fé. Não podemos fazer ciência sobre isto. A ciência nos moldes da ciência moderna, se resume somente naquilo que pode ser comprovado pela experiência. A ciência moderna possui seus próprios métodos de investigação sobre a verdade e, cientificamente, somente é aceito como verdade aquilo que pode ser provado e medido concretamente, que passa pelos sentidos humanos, que aparece, que é empírico e aquilo não pode ser medido, quantificado, não é considerado ciência. Ora, a esperança, a crença na vida eterna, não é algo que passa ser provado em laboratório. Isto pertence ao mais profundo da consciência de cada um. É graça, mistério, fé. Logo, não podemos fazer ciência sobre a esperança.
A esperança também é diferente de expectativa. As expectativas poderão ser frustadas. Elas pertencem ao universo da história, dos nossos sonhos, das nossas utopias, dos nossos ideais. Temos expectativas politicas, econômicas, afetivas, que poderão realizar-se ou não, dependendo de variantes históricas. A esperança vai além. Ela é fruto da nossa fé. A esperança é eterna, consoladora, e nos chama para o futuro. A concretização da nossa esperança se dará na eternidade e é algo sem limites, não passa pelo crivo das frustrações humanas, das utopias. As utopias desmoronam, mas a esperança não morre porque está para além das utopias. A esperança, como dizemos popularmente, é realmente a última que que morre. Somente irá morrer quando não precisamos mais dela. Quando tudo estiver consumado, quando estivermos face a face com o nosso Deus. aí não é mais esperança, e sim realidade.
A humanidade sempre buscou na esfera da fé, das crenças diversas, aquilo que a razão não pode explicar. A razão humana é limitada porque é humana. Quando a razão não encontra mais respostas entramos no mistério, no universo da fé, e buscamos respostas religiosas, sagradas, ou como dizem os filósofos, na esfera da metafísica. Então surgem diversas respostas com respeito no fim último do homem e do mundo. Estas respostas, chamamos de respostas escatológicas.
A resposta judaica cristã é uma delas. A resposta oriental será outra, a resposta das religiões de matriz africana será diferente e assim teremos várias outras que podem mudar no tempo e no espaço, pois são respostas teológicas e a teologia é algo dinâmico, que varia no tempo, no espaçoe nas culturas diversas.
Os de tradição religiosa oriental, por exemplo, crêem naquilo que chamam de transmigração das almas. Para eles, o final de tudo será quando voltamos a ser o Deus de onde viemos. Todas as criaturas são uma centelha, uma fagulha da grande divindade que o hinduísmo chama de Brahma. o caminho de todas as criaturas é o de retornar para Brahma. Para isto deverão buscar, nas vidas, a perfeição, o que dependerá do progresso de cada criatura em sucessivas reencarnações. Quando cada criatura atingir a perfeição, ela perderá a sua identidade e retornará a Deus novamente, tornando-se Deus. Este caminho de retorno, para eles, é penoso, sofrido e exige, sacrifício, renúncia da materialidade, contemplação. Temos aí, portanto, uma resposta.
O espiritismo, cuja filosofia é bastante recente, tem raízes no pensamento oriental e fala em reencarnação. Diz a doutrina espírita que as almas reencarnam para atingirem a purificação, e quando purificadas passam a viver numa outra dimensão. No entanto, não se tornam Deus, como diz a crença oriental. Para o espiritismo o caminho da purificação é o caminho da caridade. Sem caridade não há salvação. Esta é outra resposta para o mistério da esperança.
Nós cristãos acreditamos na ressurreição. A santidade, cremos, nós a alcançamos durante a vida, e a vida é uma única. Temos somente uma vida terrena. Cremos também, diferentemente das duas outras respostas que nos referimos.
A espiritualidade de Jesus era uma espiritualidade de esperança, de futuro, para frente. Para Jesus, se fundamenta no amor e o amor é criativo, projeta para frente, para a esperança, pois quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno do reino do céu. Não pode haver retrocesso nem desespero quando há amor. O amor nos projeta para a eternidade e nos dá segurança.
Vimos, portanto, algumas respostas para a esperança humana. Sobre isto não adianta tentar fazer ci~encia, não adianta buscar comprovação científicas, pois estã no universo da fé, e neste universo todas as respostas deverão ser respeitadas. Grande é o erro quando tentamos comprovar as nossas respostas escatológicas, provar a ressurreição ou provar a reencarnação. Se um dia conseguimos provar, deixará de ser fé e passará, então, a ser ciência. Não precisamos mais acreditar e a esperança, então, desaparecerá, ficando somente a expectativa que fazem parte do relativo universo humano.
Acontece que o ser humano atropologicamente, é um ser de esperança. Ser homem é ser aberto à transcendência e este é o ponto chave para todas as respostas escatológicas. Não há como fugir da esperança que é parte essencial na existência humana. Ou é Deus, ou são fetiches que o mundo nos apresenta. O ser humano precisa de transcendência e isto vai além, muito além daquilo que a nossa limitada ciência possa dizer.
Matéria extraída do livro "Escatologia Cristã" Entre ameaças e a esperança - autor Mario Antonio Betiato - Editora Vozes

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